Você já reparou quantas vezes você foge dos conflitos, achando que eles vão se dissolver por si só e o Universo dá uma volta e traz o mesmo conflito com outra roupagem? O que será que isto quer dizer?
Os conflitos fazem parte da nossa vida para podermos olhar para a nossa sombra um arquétipo dominador da conduta na fase da evolução psicológica do ser humano.
Uma das coisas que mais tememos é ver nossa sombra, a ponto de algumas pessoas acreditarem que não as têm. Fazer contato com ela dependerá do grau de evolução de cada um e nada disso tem de certo ou errado, bom ou mau. Só conseguimos olhar para os nossos defeitos ou sombra quando estamos maduros e prontos. Não adianta tentar olhar para o que ainda não pode ser visto, somente na medida que evoluímos, vamos criando músculos para tal, ou seja, na medida que ocorrer o desenvolvimento do Self e diminuir a predominância do Ego que poderemos compreender o propósito de nossa existência. Para isso acontecer será importante adquirir novos hábitos, novos pensamentos e requer muita persistência, porque é muito fácil voltar aos velhos hábitos, pois o piloto automático gasta bem menos energia.
Existe uma história:
Um monge budista rumava na direção do monastério acompanhado por alguns de seus discípulos, quando, passando por uma ponte, viram um escorpião que estava sendo arrastado pela correnteza em que se debatia, afogando-se.
O monge apiedado, correu pela margem do rio, introduziu a mão na água e retirou o escorpião da morte.
Alegre por tê-lo salvado da situação, quando o trazia para o solo, o escorpião picou o monge, produzindo-lhe uma grande dor, que fez com que o derrubasse e caísse na água novamente.
Nesse momento, o monge correu e, pegando um pedaço de madeira, novamente entrou na água e retirou o escorpião, salvando-o.
Retornou ao caminho em silêncio após o seu gesto nobre, quando um dos discípulos, surpreso pelo acontecido, indagou o monge:
– Mestre, penso que o senhor não esteja bem. A sua tentativa de salvar esse aracnídeo nojento e perverso, que lhe agradeceu o gesto nobre com uma picada dolorosa, redundou inútil e nocivo para o senhor. Não seria natural que o deixasse morrer, em vez de buscar por segunda vez salvá-lo, correndo novamente o mesmo risco?
O monge escutou com suave sorriso na face e respondeu com bondade:
– Ele agiu conforme a sua natureza, enquanto eu procedi conforme a minha. Ele reagiu por instinto, defendendo-se mediante a agressão, e eu agi de acordo com o meu sentimento de amor por tudo e por todos..
(História extraída do livro: O Poder da Gratidão de Joanna de Angelis/Divaldo Franco).
Podemos observar nessa história o Self superando o ego, diante dos conflitos, sem querer transferir a responsabilidade. Observamos também que se assume a sua atitude sem se justificar, sem transferir seu comportamento e muito menos sem se sentir ingrato pelo comportamento do outro, porque tem a clareza, a consciência e reconhece que cada um dá o que tem de acordo com seu nível de consciência e discernimento que é seu.
Marshall nos diz que toda violência é uma expressão trágica de uma necessidade não atendida. A CNV nos traz a possibilidade de podermos entender o outro dentro de sua perspectiva que é diferente da minha e para isso precisamos procurar um olhar empático para poder ver a beleza da necessidade que está por trás do conflito ou da agressão na fala do outro. Será importante deixarmos de ver o outro como inimigo e ver o que está por trás. Esse é um caminho para exercitar a compaixão.
Os conflitos existem para um caminho de evolução. Tudo que nos acontece tem um sentido e nada é por acaso. Você já reparou quantas vezes você foge dos conflitos, achando que eles vão se dissolver por si só e o Universo dá uma volta e traz o mesmo conflito com outra roupagem? O que será que isto quer dizer? Quer dizer que ele precisa ser visto, reconhecido, aceito, seja reflexivo para que possamos gerar algumas mudanças e assim mudar nossos hábitos e evoluir. Ou você tem a síndrome de Gabriela? Eu nasci assim, eu cresci assim, vou morrer assim…. Gabriela.
Lidar com os conflitos é um caminho fácil? Claro que não porque nosso instinto é se vingar do que o outro nos fez. Acreditamos que dessa forma iremos fazer justiça. Mas que justiça é essa que para eu estar bem, eu preciso devolver na mesma moeda? Como seria se ao invés de deixarmos nosso ego nos levar escolhêssemos um novo caminho em busca do nosso Self? É um caminho de ser complacente, procurando uma forma de ser respeitado e respeitar o outro também.